SAUDADES DA MINHA TIGRÃO
 
 
      
Eu posso lhes dizer que aproveitei de verdade a fase da minha infância até a adolescência.Quando moleque, eu era o dono dos jogos e o dono das idéias de quais seriam as próximas brincadeiras.Minha casa era o “point” da turma.Crescemos juntos naquele bairro.Eu, que era da rua 6, o pessoal da rua 7 e da rua 8. Íamos juntos pra escola de perua e à noitinha nos reuníamos em casa, depois de terminadas as tarefas da escola. A gente ficava na rua até tarde, principalmente nas férias.Só nos despedíamos quando nossas mães já tinham cansado de repetir que era hora de entrar.As brincadeiras não tinham fim.Era mamãe da rua, cada macaco no seu galho, balança caixão, esconde-esconde, futebol, voley, queimada,telefone sem fio, soltar balão galinha, pipa,competição de bolinha de gude e mais e mais coisas legais.Podia estar o maior frio que a gente não sentia, a gente não tinha fome, esquecia de comer.Se chovesse?Melhor ainda, a brincadeira era na enxurrada.
Quem foi criança nos meados de 1980 sabe do que estou falando.
Em todas as brincadeiras eu quase sempre ganhava.Na queimada era difícil me acertar.
Fui eu que inventei o pega-sombra. Eu ficava observando quando as luzes dos postes acendiam e dependendo da posição que ficávamos, as sombras iam mudando de formas. Uma hora a gente encompridava e ficava magérrimo, outra hora ficávamos pequenos e largos. Eu agachava,levantava, fazia um zigue-zague com o corpo e ninguém conseguia pisar na minha sombra.Isso me divertia muito.
Um dia, meu pai me presenteou com uma bicicleta ¨Tigrão¨,um novo modelo da Monark.Ela tinha um banco com uma estampa de tigre que eu achava o máximo.O guidão era alto,o pneu da frente menor que o de trás,o quadro era comprido e dava pra levar meu irmãozinho sentado.A pintura era de uma cor metálica. Uma bicicleta super transada.Todo mundo queria andar nela, mas eu não emprestava pra ninguém.
Eu gostava de ir lá na rua 8 com o Marcelo, cada um com sua magrela.A subida era dura, mas na descida a gente se divertia muito.A gente sempre ia no final da tarde quando o clima estava mais ameno, pra sentir o vento na cara e aquela sensação de liberdade.
Muitas vezes nós acordávamos cedinho no domingo e saíamos para fazer trilha na pedreira do chapadão, mas nem sempre curtíamos o passeio, quando era o caso de furar algum pneu ou quando o tombo machucava muito.Até hoje tenho as marcas dos tombos.
Numa noite de verão, aquelas em que as pessoas não aguentam ficar nas suas casas, a galera estava sentada na sargeta e lá fui eu com minha tigrão apostar corrida com o Marcelo.Eu vinha com tudo na descida e quando me dei conta, estava sem o freio dianteiro, pois o traseironeu já sabia que estava falhando.Dei de cara no portão da bruxa do bairro que veio correndo me acudir.Eu ainda estava vendo estrelas quando escutei a gritaria de gente em cima de mim.Avisaram a minha mãe que chegou assustada e brava também.Eu poderia ter sido atropelado se tivesse vindo algum carro naquele momento, ainda mais quando cruzei a rua transversal.
Quando a gente é criança não pensa nas consequências,não tem medo dos riscos.A magia dos brinquedos e brincadeiras fazem com que soltemos a imaginação e nos transformemos em tudo o que quisermos ser. Podemos ser imbatíveis, sedutores, poderosos e até Deuses!


Aluna: Elaine Lopes
Letras: Turma B

Imagem:mortalmachin

Um comentário:

Susely disse...

Elaine Lopes, linda história e é bem verdade, quando somos crianças não temos noção do perigo e podemos ser aquilo que quisermos, não há maior liberdade.

show!

bjkas
Suse
3º A - manhã