Aquele dia não podia ficar pior, pensava Jader,
enquanto tentava driblar o trânsito daquela movimentada cidade. Justamente
quando mais precisava, a sirene de sua imponente viatura parecia não surtir
efeito nenhum.
À apenas dez minutos de terminar o seu turno,
recebera o chamado pelo rádio. O que se sabia até agora é que o banco Itaú do
centro estava sendo assaltado. Havia reféns, mas o número era incerto. E sendo
o único negociador disponível, Jader não pudera ignorar o apelo. O amor pela
profissão sempre falava mais alto.
A ausência de mais informações complicava o seu
trabalho, mas já estava mais do que acostumado às adversidades e, modéstia à
parte, era o negociador do Distrito com maior índice de sucessos.
Com esse pensamento em mente, Jader chega ao local
que, como de costume está tomado de curiosos e viaturas policiais. Logo
identifica o tenente que conseguiu chegar antes dos outros, e que o informa que
lá dentro há pelo menos dois assaltantes muito nervosos, apontando armas para a
cabeça de uma cliente e uma funcionária. Há também um segurança do banco entre
eles, mas o tenente não soube precisar se ele ainda estava armado e se havia
sido rendido. As outras pessoas que estavam presentes no momento do assalto não
se encontravam à vista.
Bem, a localização do prédio não era nada favorável
para o posicionamento de um atirador de elite, e a frente toda em vidro piorava
ainda mais a situação.
Jader ainda não havia se aproximado da entrada do
estabelecimento, quando seu celular tocou. Intrigado, olhou para o
identificador, e as palavras “número privado” o fizeram pressentir que aquela
chamada não lhe traria boas notícias.
Aquela voz era inconfundível, estava gravada em seu
cérebro e em seu coração. Era a voz da sua amada, Laura. Mas ela não lhe trazia
o alívio e conforto de todas as outras ligações. Naquele dia, aquela voz
continha altas notas de desespero e histeria. E Jader levou aproximadamente
cinco segundos para entender que Laura era a cliente refém. E a partir daí, sua
mente anuviou.
Disparou para a frente do prédio, na tentativa de
que seus olhos confirmassem o que seu coração não conseguia aceitar. O celular
estava grudado ao ouvido, quando alguém se interpôs em seu caminho. Seus olhos
brilharam num instinto quase assassino ao pensar que poderia ser impedido de
salvar sua noiva. E aquela outra voz o chamou, fazendo Jader quase estremecer.
E pensar que seu dia não poderia ficar pior... Diante de si estava Marina
Rodrigues, sua ex-mulher e repórter da TV local. Por que, em nome de Deus,
justo ela havia sido designada para dar cobertura àquele caso? Ela que fosse
para o inferno, com sua voz irritante, seu microfone e o câmera-man! Se fosse
preciso, Jader passaria por cima deles!
E agora, na entrada do prédio, tinha a confirmação dos
seus maiores temores: Laura estava completamente indefesa sob a mira da arma...
do Bob, ex-namorado de Laura! Oh céus!
Os olhos treinados de Jader procuraram pelos demais
assaltantes e reféns, e localizou a funcionária sob a arma do segurança...
Segurança? Mas o tenente disse que havia pelo menos mais um ladrão! A mente de
Jader estava entorpecida. Porém tudo clareou quando o segurança se virou e
Jader identificou Henrique, ex-colega de corporação, que havia sido exonerado
da função por corrupção, e que agora trabalhava como segurança num banco.
Jader começou a montar o quebra-cabeça. Aquilo se
tornava pior a cada segundo! O acaso estava lhe pregando uma peça terrível, e
chamando aquele terror de “infeliz coincidência”.
O instinto policial sobressaiu e ele tentava
compreender as palavras desconexas que Laura pronunciava junto com os outros
ruídos ao fundo, através do fone do celular.
Tudo ficou tenso quando Henrique olhou em sua
direção e o identificou. Os berros ficaram mais enérgicos e histéricos. Bob tomou
o celular das mãos de Laura, interrompendo a ligação. O nervosismo era mais do
que perceptível nas expressões e linguagem corporal dos assaltantes.
Sem ter como se comunicar, Jader apenas assistia e
tentava raciocinar num modo de acabar com aquele pesadelo, quando a funcionária
do banco se levantou de forma brusca e quis se lançar sobre o segurança que a
rendia. A arma disparou, mas o ouvido de Jader captou dois sons semelhantes e
quase simultâneos. Em um segundo, o corpo da moça se encontrava no chão, o
sangue saindo de uma das suas têmporas.
Um milésimo de segundo depois, como que em câmera
lenta, Jader viu o corpo de Laura também tombar, com o mesmo buraco na cabeça.
O ar lhe faltou aos pulmões e ele foi lançado ao chão com o impacto dos vidros
sendo estilhaçados pelo que pareciam ser milhares de metralhadoras. Quem havia
autorizado aquela retaliação, ele não conseguia imaginar. Sua mente só pensava
que não era somente o seu dia que havia piorado. A sua vida havia acabado!
E enquanto isso, Marina Rodrigues dava o grande furo
de reportagem: A tentativa de assalto ao banco Itaú havia terminado em
tragédia. Duas reféns, uma cliente e uma funcionária do estabelecimento haviam
sido mortas pelos dois assaltantes – um deles, também funcionário do local. Neste
momento, os dois elementos se encontravam igualmente mortos, devido aos fortes
disparos realizados por policiais que se encontravam posicionados em frente ao
prédio. O policial Jader, responsável pela negociação e libertação das reféns
estava gravemente ferido e sendo encaminhado ao hospital... Os detalhes dessa
trágica história seriam revelados no próximo boletim, após o intervalo dos
comerciais.
Keila Brandão Candido
Turma de Letras - 3º A
2 comentários:
Nossa! que real consegui visualizar tudo. Parabéns Keila pela ótima escrita.
Keila, foi muito legal ler e postar sua história, cenas bem descritas, parecendo um caso real. Adorei
Bjkas
Suse
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