Antônio Preto

O que se sabia de Judite era muito pouco, mas Antônio não media sua língua quando difamava a sogra. Ora era por que ela comia demais, ora era muito preguiçosa, não importava o assunto sempre acabava nela. Falava tanto dela que mais parecia que era casado com a sogra. Preto como era chamado não tinha sossego.

Muito prestativo nos afazeres de casa, Preto era sempre o primeiro a ser convocado para as diversas tarefas, fazer um novo jardim no condomínio da sogra, cortar grama justamente no dia da final de campeonato, pintar a casa, ser o motorista, levando a Velha, apelido da sogra, para cima e para baixo, enquanto ela poderia ir a pé ou de ônibus, chamar o elevador para ela ir embora, tudo era o Preto, nada fazia sem ele.

Rita, mulher de Antônio, sempre dizia que sua mãe logo morreria e ele seria muito rico, ele pensava nesse momento e se animava. Com certeza trocaria de carro, tiraria umas férias extras. Porém, o que ninguém sabia era que a Velha na verdade tinha uma saúde de ferro, não iria morrer tão cedo. Todos os dias sempre havia uma nova história, algo que ele tinha de realizar, enquanto sua sogra ficava olhando, mostrando de longe como queria que ficasse.

Até que um dia Judite comprou um sofá novo e um quadro, para usar não sabia onde, por isso, chamou seu faz-tudo favorito. Sobe e desce, põe e tira, direita e esquerda, o que levou a Antônio a ficar cansado e tonto, que sentando no sofá fechou os olhos, ouviu sua sogra gritar que não era ali que queria o sofá. Ela morava no décimo andar, ele perguntou se o sofá não ficaria melhor perto da janela, com a iluminação ficaria uma beleza. Tremendo, Antônio fingiu não aguentar mais o peso da mobília o que levou Judite a ajudá-lo. Empurrou o sofá janela abaixo coma sogra agarrada nele, começou a sorrir. Agora era um homem rico.

Ouviu ao fundo a voz de sua mulher, levantou do móvel foi à janela, olhou para a cozinha e viu a maldita Velha em pé, era apenas um sonho!

Marcelo Santana

Letras - Turma A