O BANHEIRO



            Era fevereiro de 1993, ano em que Joana completava oito anos de idade. Mirrada devido ao auxílio que dava aos pais em diversas atividades, no roçar, buscar água para família e ajudar nos afazeres domésticos, numa casa de pau a pique, o que acabou por comprometer seu desenvolvimento. Tinha cinco irmãos, sendo um mais velho e o restante mais novos, que ela ajudava a mãe a criar.
Esse lar tinha pouquíssimos recursos e com isso desenvolveu um preparo físico e psicológico fortíssimo. Muitas vezes vendia o almoço para ter a janta.
Outro fato à ser relembrado é que aquela casa não possuía banheiro.
Essa pequena menina, morava no norte de Minas Gerais, em um tipo de sertão, com períodos de meses que não possuía uma gotícula de chuva, e para se chegar à estrada pavimentada mais próxima, tinha que caminhar em torno de duas horas.
Nesse ano aconteceu um fato que gravara a nossa personagem, ela começou a frequentar a escola junto com irmã um ano mais nova, por ser uma comunidade rural, com poucos recursos e longe da civilização,  ficara aguardando a irmã completar a idade para frequentara escola.

No primeiro dia de aula, ambas estavam como cachorro sem dono, nervosas, não se sentiam preparadas para esse novo desafio, lidar com a professora, pessoa que tinha para elas uma gama de conhecimento e vivência, e elas pobres e pequenas, as angústiava.
No decorrer do dia cada fato novo que acontecia era algo maravilhoso, cada palavra dita pela mestra era soberbo. 
Como era uma comunidade rural simples, as carteiras utilizadas, eram mesas adaptadas para se sentarem em dupla ou até em trio, e mesmo a sala de aula tendo uma iluminação precária, para ela, era algo como, um templo do conhecimento, onde poderia aprender coisas que iriam tirar todos de sua família daquela situação triste.
Um fato que a deixou maravilhada, foi que em certo momento sentiu vontade de fazer necessidades fisiológicas, informou a professora, que a levou até um ambiente que ela desconhecia, o banheiro. Ao entrar naquele ambiente, seus olhinhos brilharam como uma estrela em noite escura, ele era um tanto simples, mas enfim, ela conhecera esse ambiente.
Quando o banheiro era usado, por não possui descarga, pois tudo era feito em uma vala, o cheiro pairava no ar por um tempo que parecia uma eternidade, mas o verde do ladrilho a fascinava, realçando pelas portas de madeira pintadas de verde escuro, e lá ela adorava ficar, admirando-o.
A professora disse no primeiro dia de aula, para que quando fosse ao banheiro, tomasse cuidado de não deixar cair na vala, suas coisas.
O banheiro foi o que mais ficou na lembrança da menina, e era onde ela mais gostava de ficar nos quatro anos que nessa escola permaneceu, até terminar a 4ª série. 

Michele Nogueira
Turma de Letras - Manhã


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