PRIMEIRO DIA DE AULA - MISTÉRIOS


               Como toda criança o primeiro dia de aula é muito importante, mas antes de entrar neste assunto devemos pensar no dia anterior antes do início das aulas. Em meados de fevereiro de 1997, entraria na antiga segunda série e hoje segundo ano. A escola que eu estudava era a EE. Prof. Antônio Ricardo Pecchio, ela ficava perto, ou melhor, dentro de uma favela, uma das mais perigosas do município de Carapicuiba-SP. O caminho que eu percorria para chegar ao colégio passava pelas vielas da favela, dia de chuva era um desastre, pois não havia roupa e sapato que aguentasse o lamaçal que virava.  A ansiedade batia em meu peito só em saber que iria rever meus coleguinhas de turma do 2ºf, e de saber quem seria minha mais nova professora (o).
                O relógio estava programado para as 06h00min, porém eu já estava de pé antes mesmo do despertador tocar. Naquela manhã, minha mochila já estava pronta, meu uniforme posto, somente faltava tomar o café da manhã é esperar o David, meu primo e sua mãe que nos levara ao colégio. Nesta mesma manhã minha mãe estava sem acreditar na cena que via na cozinha, eu pronto para sair e sem preguiça de acordar. Então o café foi preparado por ela, e comi todinho com café e leite. Um soar de palmas bateu no portão de casa, então meu coração acelerava e minha mão suava, sai em disparada da mesa, passei pelo banheiro escovei os dentes, peguei minha mochila e fui para o portão. Abri e vi minha tia.
- Bom dia! Tia. E ai David? - Perguntei.
- Bom Dia! Estou bem vamos. – Meu primo como sempre chato não ligava para essas coisas.
- Até mais Maria! Respondeu minha tia.

Despedi da minha mãe e fui com eles, comecei a descer os morros e seguir o caminho já conhecido. No meio do caminho encontrava alguns amigos indo para o colégio. Cerca de 30min depois estávamos na porta da escola, me despedi com um beijo na minha tia e subi as escadas que levavam a portão principal de ferro e com desenhos infantis. Tinha orgulho da escola, pois ela era grande com 22 salas de aula e 10 salas no subsolo, havia também uma área enorme com gramado para bicarmos. Entrei e vi crianças correndo para todos os lados, eram tombos para tudo que é lado. No pátio, perto da estrutura onde segurava o telhado havia a foto do fundador do colégio pela qual tinha o mesmo nome. Diziam que a imagem era mal assombrada e que seus olhos viram para nos observar todos os alunos.

              O sinal tocou por duas vezes, fizemos fila e depois de estarmos todos organizados cantamos o hino nacional com a mão levada ao peito. Um tempo depois descemos para a sala de aula junto com a professora.
Agora me encontrava mais calmo pois a pior parte já havia passado a de entrar no colégio, os dois primeiros tempos de aula correm como normal, exceto pelo fato de minha professora nos colocar por ordem alfabética e usar uma régua enorme para bater na mesa quando não estávamos a comportar.

                A matéria não era difícil, mas o que eu esperava mesmo depois de tudo era o intervalo, pois era onde as salas ficavam todas vazias e assim eu poderia ir até a sala sem número, onde havia rumores de ser mal assombrada. Na realidade todo colégio era mal assombrado como diziam os alunos mais velhos. Tocou o sinal, copiei o que restava do quadro negro e saímos para o recreio, à professora trancou a sala e de relance ao subirmos as escadas vi a faxineira sair da sala. Cerca de uns 5 minutos voltei para o corredor e fui em direção a porta. As luzes pareciam piscar ao me aproximar, meu coração deparava, um frio tomava conta de mim, no entanto tinha que ir antes que o recreio terminasse. Lentamente fui chegando à porta, toquei na maçaneta e a virei, o ranger da porta me assustava.  Neste momento uma voz ecoou pelo corredor.

               - Ei, você pare! –Era a inspetora.



ELIELTON BARRETO
Turma de Letras - Manhã


http://cadernodecienciasebiologia.blogspot.com.br/2013/01/dinamicas-para-o-primeiro-dia-de-aula.html

O PARQUE




            Segundo Walter Benjamin, reviver nossas memórias é mergulhar na vida e torná-la viva novamente. Parece-me que a teoria fundiu-se a prática, quando comecei a relembrar a minha infância. Ano de 1968, plena ditadura militar no país.
Morávamos em Campinas, exatamente em um bairro distante do centro. O bairro era o Jardim São Marcos, divisa Santa Mônica, era cortado pela rodovia Dom Pedro. Na entrada encontrávamos à esquerda os Campos dos Amarais e a sua direita uma escola de química, atual ETECAP. Nessa mesma ocasião minha mãe informou que eu teria que ir para o parque e ficaria lá o dia todo, nunca tinha ficado fora de casa sem minha mãe.
            Levantamos cedo em direção ao centro de Campinas, chegamos a um lugar imenso, todo arborizado, com um enorme portão, um caminho todo de paralelepípedos, minha mãe despediu-se de mim, fiquei meio apreensivo, mas, logo fui tomado por um sentimento de expectativa. 
            Fomos conhecer o parquinho, um lugar maravilhoso e muito colorido: balanços, escorregador, gira-gira, brinquedos por toda parte. Em seguida fomos para uma sala com mesinhas e cadeiras, massinhas de modelar, tesouras, colas e papéis, naquele momento me senti Salvador Dalí.
Depois do almoço adentramos em imensa sala e lá assisti pela primeira vez “Dumbo”, o elefante, que por causa de suas orelhas enormes era chacoteado por todos os moradores do circo, aquela diferença nunca mais abandonou a minha memória.
O dia passou e eu não via a hora que minha mãe aparecesse para me levar embora, quando já estava no portão, olhei para trás e sentia que aquele lugar teria um significado muito especial na minha vida. Realmente o parque marcou profundamente o meu futuro.

 Cláudio Antônio Anselmo de Lima
Turma de Letras - Manhã

Imagem: http://maurilioferreiralima.com.br/2009/10/decisao-a-hora-de-escolher-e-escola-para-o-filho/


HELENA


Vagando pelos corredores alvos, Helena, se apressava para voltar ao seu posto, acostumada com a serenidade daquelas paredes, nunca se perdera naquele imenso labirinto. Neste silencioso lugar divagava, queria entender o porquê da vida, toda essa calmaria era algumas vezes era interrompida pelo barulho de alguma sirene gritando, o que dava um tom macabro ao lugar. Sempre assim, tudo parava ali, sangue, suor, dor, medo, morte e lagrima. A viatura ao abrir a porta, era uma loucura. Lutando todos contra o tempo, cada detalhe era importante, alguém poderia deixar de viver. Pernas, braços, fígado, rins, tudo era checado.
Seu passatempo era estudar biologia. Pesquisava tudo de mitocôndrias, respiração, digestão, reprodução celular amava ver a vida desabrochando. Quando alguém lhe perguntava, sempre enchia a boca de água como se estivesse degustando um prato especial, que era preparado para ser saboreado com muita paciência, onde cada detalhe o cozinheiro não deixava passar, ficando em frente ao fogão adiciona os temperos para adequar o sabor, à cada pessoa que fosse degustar o prato. Deliciava-se, não poupando detalhes, não encobria novas descobertas. Apaixonada pela matéria, lutava para entrar em uma universidade e não conseguiu.
Os anos de dedicação foram em vão, seus esforços foram inúteis, frustrada, desanimada, desajeitada, não se animava com nada, tudo continuava distinto. Não olhava as paredes diretamente, para não se comparar, tudo era monocromático, nada quebrava o cotidiano continuamente sem sal e sem açúcar. Tinha a turma dos de branco, os médicos, que bem sabia não poderia mais fazer parte, quando quis não pode e nem teve coragem para lutar por uma vaga, tinha a turma dos de verde, os recursos humanos, havia passado por lá quando fazia parte dos arquivos.
Outro pessoal em que tentou entrar foi a da enfermagem, vestia marrom, nesta turma muitas vezes durante o almoço podia sonhar, via tudo o que aprendeu nas lentes do microscópio, esta lente mágica a levava, para outros mundos, lugares, vendo simplesmente a célula em seu ciclo: nascer, crescer, multiplicar e morrerem num eterno retorno, sendo conhecida do laboratório, nos momentos livres, ficava lá fantasiando ser uma grande geneticista.
No saguão se reuniam as pessoas coloridas, quando passava por aquele corredor fugia, lá sempre havia muitas necessidades, e queria resolver sempre tudo, mas não podia e Helena se deprimia. Lembrava de seu pai, seu avô de todos os seus parentes que passou na recepção e não voltou para casa. Recebendo uma promoção, recusou não quis fica na ala colorida, o lugar a aborrecia, pessoas na aparência sempre mostram aquilo que não são, num grande palco, todos interpretam seus papeis bem decorados, numa hipocrisia sem fim. Na realidade todos se coloriam disfarçando a tonalidade chumbo que possuíam e contaminavam o ambiente,  deixando tudo num cinza doença evoluindo muitas das vezes para o preto lagrima, não cuidavam de suas almas, passavam retas, frias e vazias ao seu ver. A dor dali a invadia, não deixava de se envolver, mesmo sabendo o que eram não queria ver ninguém sofrendo como ela.
O diretor de recursos humanos não entendeu, ninguém compreendeu os motivos dela, ela e somente ela sabia o porquê não queria parar ali. Pessoas coloridas eram crianças chorando, homens gemendo, adolescentes em gestação e mulheres sempre e sempre berrando, por acreditarem que os atendentes não são humanos como elas, com problemas e defeitos, soltam todo o seu ressentimento, indignação e revolta contra o sistema, o governo e seja lá o que for tudo para conseguirem o que querem mesmo a custo da dor do outro.
Os membros altivos dali, os piores, eram os engravatados, não tinham cor, agiam como se nunca precisassem de ninguém, nem dos de branco. Sempre em dupla eram os donos do hospital, mandavam e ninguém questionar suas ordens. Pouco tempo passavam por aqueles corredores e ao passarem ainda que bem vestidos, sapatos polidos, calças com quina, camisas engomadas deixam sempre más impressões. Os corredores brancos mudavam, seus potentes aparelhos eram usados para registrar cada pormenor, em fleches contínuos não perdiam tempo. As averiguações entravam no orçamento e os consertos, ampliações, novas aquisições, contratação e mais colaboradores eram de continuo prometidos, contudo nunca realizados. Todos deveriam contribuir, mesmo faltando recursos e equipamentos deveriam prestar um bom atendimento para conquistar mais e mais clientes e pacientes. De quando em quando a turma dos de amarelo, os técnicos, os chamava para liberar dinheiro para a manutenção de alguma máquina de diagnóstico, e a solução era a mesma, alguém ia ficar laranja de lamentação, pois além de não ter o que pediam ficavam desempregados.
Helena desencantada, não parava de ouvir a voz de sua mãe, que não cansava de insistir com ela não negligenciar as oportunidades que a vida lhe oferecia.
Sonhava uma vida lado de Mariano, seu noivo e sabia que o custo de uma faculdade era alto demais, não queria tomar tal decisão, pois ela estaria longe do sonho de se casar fazendo uma grande festa. Sabia que o tempo não esperava, colocou sua vontade na frente e nunca contabilizou ficar assim, se omitiu, abandonou, se deixou levar vendo onde iria parar, mas nunca parou realmente de sonhar. Casou, endividou, renunciou e desprezou o que a vida lhe oferecia, não ousaria sair de sua zona de conforto, os anos se passaram com eles a oportunidade, este vácuo a acompanhava, deixando-a cada vez mais e mais desmotivada.
Os corredores daquele local a oprimiam mais e mais, sua monotonia não era tratada. Seu trabalho se tornou uma referência por acidente, numa reunião se opondo aos donos do lugar, os criticou, por tratar o hospital como se fosse uma indústria, mesmo destoado, ali estavam pessoas cuidando de pessoas.
No dia após o incidente, seu patrão com os papeis de sua demissão nas mãos sofreu um grave acidente e foi parar ali. Necessitando do tratamento por eles defendido, como numa linha de produção foi levado primeiramente ao chuveiro gelado por economia, molhado, sangrando, mediram sua pressão, não corria risco de vida, gemendo, esperava sentado numa cadeira ser bem atendido, pois era o dono do lugar. Verificando seu cadastro, suas mensalidades estavam em atraso, ficou então em outra fila, a do SUS, não tinha médico, parou em outro corredor, suava, esperava uma ambulância para levá-lo ao posto de saúde perto de seu bairro. Sentindo dores por causa dos ferimentos, com lágrimas clamou, gritou, berrou, falou mal, pediu para tomarem conta dele, pois com certeza pagaria tudo depois. Nada adiantou, até que pelo corredor entrou Rita, sua mulher, de posse do talão de cheques, assinou um e entregou ao diretor financeiro, que foi na contabilidade, verificou seu nome, depositou, sendo compensado passaram a tratar dos ferimentos do patrão. Neste dia seu mundo mudou e com ele o hospital. Foi selecionada para estudar, numa faculdade paga pelo hospital, tanto ela como Bianca, sua filha.
Receando, olhava ao redor em busca de algum conhecido, não achou, ouviu a matéria sendo vomitada pelo professor e a única preocupação ali era se caia ou não na prova. Ninguém se interessava pela descoberta ou pesquisas só queriam tirar nota, para não perder a bolsa.
Pensou em voltar atrás, mas entrou ali para aprender, queira mudar de profissão, seu salário duplicou, seu horário mudou, mas escolheu licenciatura em matemática.
Tantos anos sem emoção, agora cercada de novos problemas, trabalhando todos os dias sem folga, não compreendia a lógica da matéria, nada entrava em sua mente, estava acostumada num mundo sem cores, queria poder ser daltônica e ver o mundo em apenas uma cor. Os amigos a elogiaram pela atitude, o marido quase a abandonou, seu patrão a encorajou, sua mãe a criticou era muito tarde.
Desperdiçou o tempo, e agora precisava dele, para tantas coisas, para a profissão, revisão da matéria, a família, os amigos, o marido, o estágio, para ir e vir, para dominar e acabou sendo dominada, ficou presa à tradição, não parou, precisava de ajuda e ninguém a ajudou. Todos a cobravam, sabia de sua responsabilidade seu mundo agora colorido, suas cores começaram a se misturar, perdeu o controle adoeceu, perdeu a coloração e entrou na ala dos anormais, ninguém percebeu que estava monocromática, de cinza doença, passou rapidamente para o vermelho depressão.
Mal falava, não comia, sua vida estava focada nos estudos, ainda assim, o que a mais perturbava era a inconstância da sua filha Bianca que estudava em outra sala, com vinte e dois anos, não compreendia bem, não gostava de estudar desde a infância, não parava com nenhum namorado e escolheu ser enfermeira, não podia nem ver sangue.
Tentou muda-la de curso, sentou diversas vezes com o marido, que não entendia do assunto, ele sempre dava um jeito de contornar a situação. Ele dizia que Helena estava ficando uma chata, estava passando da hora de retornar para o seu lado. Bianca era nova, iria conseguir superar todas as dificuldades. Ela iria ver vídeos que comprariam e também através da internet, tudo era possível. Acostumada com a vida noturna, não se dedicava como sua mãe aos estudos, mesmo sabendo quem pagava a faculdade. Saía, voltando na segunda-feira direto pra faculdade. Bebendo, festejando, sempre arrumava alguém para pagar o motel, não conseguia dormir sozinha. Não percebeu a oportunidade que recebeu!
Não sabia nada de biologia, estava ali só por causa do tempo em que ficaria junto do novo namorado, que era perito em computação, um verdadeiro pirata cibernético. Eles mantinham seus vícios e manias com pequenos delitos praticados em redes bancárias, quebrando senhas e criptografias.
Helena já cansada de tudo isto, saiu de férias com a família rumo ao litoral. Numa das curvas, o marido perdeu o controle do carro que veio a capotar, com o impacto, todos desmaiaram, menos Bianca que ao ver seus familiares sangrando, começou a gritar,  perdendo os sentidos.
Três horas após o acidente sua mãe falecia por falta de primeiros socorros e seu pai paraplégico.
Bianca agora sentada na sala de aula não conseguia parar de chorar, lembrando de quantas vezes Helena, sua mãe, pedia para se dedicar aos estudos, pois um dia poderia salvar alguém e quando precisou não salvou.




BRINCANDO DE BRINCAR



            Hoje penso que poderia ter brincado mais, não ter seguido regras, horários e ter desobedecido mais os meus pais, no início de 1964.
           
Todas as noites, após lavar a louça do jantar, saíamos à rua para brincar, com amigas e vizinhas. As brincadeiras eram inocentes, passa anel, esconde-escode, passa Maria, estátua.
            Todas as garotas da rua ficavam até tarde da noite a brincar, usando de toda imaginação para diversificar, pois os meninos também participavam das brincadeiras. Nas ruas desenhávamos para pular amarelinhas de mãos dadas em roda, em pares cantando as mesmas cantigas.
            Chicotinho queimado, lenço atrás, eram as preferidas, passa raio também era bem divertida.
            Com tantas brincadeiras não se via a hora passar, mas era tudo muito tranquilo, com poucos carros nas ruas, sem nenhum tipo de violência e reprovações.
            Quando cansados das brincadeiras, recorríamos às bicicletas e todos saiam a pedalar por todo o bairro. Os bambolês também eram da época, faziam o maior sucesso.
     
       Entre todos havia um efeito dominó, assim era na sequência, eu Luciana gostava de Ronaldo, que gostava de Sônia, que gostava de Mauro que indeciso entre tantas nem sabia mais, de quem mais poderia gostar. Até mesmo essa escolha se tronava uma divertida e inesquecível brincadeira.
           


UM OLHAR...




Ah! Finalmente chegou. Primeiro dia de aula. A escola é aqui pertinho de casa, ao final da rua. Tanto tempo curiosa e agora saberei o que se esconde atrás daqueles portões.
Eu posso ver seu interior através da cerca aramada que a envolve, um grande prédio com muitas janelas, uma quadra de esporte e principalmente muito verde, arvores gigantes e flores, parece até um bosque encantado. Mas eu sei que têm muito mais lá dentro, agora descobrirei o fantástico mundo do conhecimento.
Acordei bem cedo, me arrumei toda linda. Mamãe preparou um bom café da manhã e fomos. Eu ali caminhando ao lado dela, toda empolgada, sorriso de orelha a orelha, tentava imaginar quão maravilhosa era a escola e tudo que ela estava disposta a me ensinar.
A caminhada de dois minutos parecera uma eternidade, aquela brisa da manhã balançava meus cabelos e espalhava meu perfume por todo o caminho, eu estava me sentindo em uma passarela.
Em frente ao portão principal muitas crianças com seus pais aguardavam o sinal de entrada. Quando ele finalmente tocou , entramos todos e fomos recebidos pela diretora, pelas professoras e outros funcionários da escola. A diretora fez um belo discurso de recepção. Depois disso me despedi da minha mãe e fui ao encontro da professora que me chamou pelo nome completo.
Josefina. Jamais esquecerei o nome da heroína, que dedicou sua vida a ensinar futuros heróis.
Carinhosamente nos levou até a sala de aula. Fiz questão de sentar bem perto da porta, porque em caso de imprevistos, sairia correndo rapidinho a procura de lugar seguro.
Ah! Não posso me esquecer de todos aqueles coleguinhas novos misturados a outros já conhecidos. Na hora do recreio fizemos a festa!
Porém, um pequeno imprevisto aconteceu tempo depois de voltarmos do intervalo. De repente, comecei a me sentir sufocada, queria ir embora, não sei por que, mas não queria mais ficar ali, sentada naquela cadeira discretamente comecei a chorar.
As lagrimas desciam pelo meu rosto quando a professora Jô se aproximou da minha carteira.
- O que aconteceu? Perguntou ela serenamente.
- Eu quero ir pra casa, estou cansada. Respondi baixinho.
E ela chegou bem pertinho de mim, segurou minhas mãos e disse:
- Eu também estou cansada.
Essas palavras simples e aparentemente sem sentido, fizeram toda a diferença quando acompanhadas do olhar lançado. Aquele olhar poderia ter posto fim a uma guerra. Ele foi tão confortante que me senti abraçada, foi como se ela tivesse dito: - Calma, vai ficar tudo bem, a aventura está só começando...
Antes que ela pudesse soltar minhas mãos, eu sorri de volta, ainda com lagrimas nos olhos, só que estas eram de gratidão.
Acalmei-me. Fui pra casa, pensando na hora de voltar...
        E dezenove anos depois eu continuo a voltar à essa escola, só que agora, tento ser para algum aluno o incentivo bom que aquela professora foi pra mim.




Katia Santos

Turma de Letras - Manhã

O REENCONTRO



Cássia, era uma jovem adolescente de 14 anos, mas  ainda  parecia uma criança, pois adorava brincar de bonecas e andar de bicicleta com sua melhor amiga, Ana.
         Além de brincar, também gostava de “paquerar” os meninos da sua escola e alguns que moravam perto de sua casa. Nunca namorou nenhum deles, mas só o fato de olhar e se sentir olhada, já a deixava feliz.
         Quando completou 15 anos, seus pais fizeram uma festa muito bonita e muitos dos seus amigos e amigas foram convidados. Nesse dia, duas amigas suas começaram a namorar e uma delas começou a namorar justamente aquele que ela mais gostava, Luiz.
Mas ela não se aborreceu, pois sabia que era muito jovem e um outro apareceria em sua vida.
         Mas por incrível que pareça, dez meses depois, Luiz deixou sua amiga e veio falar com ela. Eles namoraram por 5 anos e se casaram.
         Durante o período de namoro, ela reparou que Diego, um amigo de seu irmão, a olhava muito e parecia se interessar por ela. Ela até queria de aproximar dele, mas como não conseguiu, então continuou seu namoro até se casar.
         Quando ela estava grávida de seu segundo filho, ficou sabendo que Diego iria se casar e chegou a pensar nele e em como seria se eles tivessem se aproximado. Será que ela teria deixado Luiz para ficar com ele? Ou será que nada teria acontecido. Ela achava engraçado, pois todas as vezes que eles se cruzavam na rua ou em qualquer lugar, eles continuavam se olhando. Nunca trocaram uma só palavra, mas parecia que se entendiam tão bem, só no olhar. Ela também sabia qual era o seu carro e todas as vezes que avistava um carro igual, pensava ser ele. Ela nunca o esqueceu, mas não sabia se ele também não a tinha esquecido.
         Doze anos depois de casada e já com três filhos, Cássia recebeu uma ligação, que dizia:
         --Por favor não desligue, pois preciso falar com você. Talvez você não saiba quem eu sou, mas eu preciso que você saiba que eu sempre gostei muito de você e nunca tive coragem de lhe falar. Mas ao cruzar com você na rua essa semana, não consegui me conter e criei coragem pra te ligar.
          Como num passe de mágica, Cássia se sentou e seu coração começou a bater cada vez mais rápido e ela quis saber seu nome. E ele disse:
              - Diego!
         Então eles conversaram muito e acabaram até se encontrando algumas vezes. Mas o encanto já não era o mesmo e nada aconteceu entre eles. Tornaram-se grandes amigos. Luiz o conheceu e as duas famílias passaram a se ver com freqüência. Os filhos de Diego se tornaram amigos dos filhos de Cássia e até hoje eles mantêm esse laço de amizade.

Sônia M. F. Boschini
Turma de Letras - Manhã

imagens: http://capricho.abril.com.br/blogs/15anos/meus-15-anos/todos-os-detalhes-da-festa-de-15-anos-  
                    linda-da-maria-eduarda-pereira/
                    http://conquistarmulher.moneis.com/36/dicas-para-abordar-e-conquistar-qualquer-mulher/

MEU PRIMEIRO DIA DE AULA



     Minha mãe  arrumou – me, pôs uma mochila em minhas costas,pegou minha mão e fomos para o ônibus,não estava entendendo nada.
Adormeci,quando acordei estava num lugar gigantesco, prédio antigo,muitas pessoas em minha volta,com beijo no rosto minha mãe me deixou,fiquei perdido tentava entender o que estava acontecendo, um homem alto veio em minha direção, falou algumas palavras e me levou. Enquanto caminhava olhava ao meu redor, parecia que estava em algum livro que li, naquele momento minha imaginação aflorou, num instante vejo a transformação, agora estou sendo carregado por um mago,
as crianças em minha volta vestem o mesmo estilo, alguma coisa puxa minha roupa, olho para baixo e vejo uma figura incomum, parecia um duende, falava muito rápido coisas que eu não entendia, chegamos até um salão imenso, o pequeno duende empurrava-me em direção das outras crianças, comecei a conversar com um garoto, ele estava muito triste falava que queria ir para casa ,  então contei para ele o que estava acontecendo e o que eu estava vendo, ele ficou alguns minutos pensando ,até que abriu um sorriso, e naquele momento percebi que tinha ganhado um amigo. 
     
Mostrei a ele meu tapete mágico voador, ele perguntou se tinha volante e buzina, respondi que sim, sorriu novamente, a partir dali, nossos dias na escola ficaram muito mais divertidos e engraçados, e também percebi que quando se tem um amigo a vida fica mais legal.







Adão Luiz Vargas
Turma de Letras - Manhã

Imagens: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/premio-extra-tv/jean-paulo-campos-indicado-como-revelacao-infantil-por-cirilo-de-carrossel-meu-pai-sonhava-com-esse-premio-quem-sabe-ele-nao-vire-realidade-6778042.html

MEMÓRIAS DA ESCOLA


                                                      

       Estava na sala dos professores fazendo uma pesquisa, quando lembrei me de meu primeiro dia de aula. Minha mãe me levou até a escola e me deixou ao abrir o portão. Percebi que as crianças eram todas diferentes uma das outras e que eu teria ali experiências bem diferentes também, que era tudo novo, mas depois as coisas foram ficando familiares. Existia muitos mitos sobre a escola, os alunos mais velhos diziam que antes da escola ser construída, havia um cemitério no lugar. Outros diziam que no banheiro feminino, de vez em quando, aparecia a mulher de branco que pegava as meninas e as levava embora.  E além disso, alunos de outra escola diziam que os alunos do Raul Pila entravam burros e saiam Gorilas.

Lembrei me também da minha professora Vera, sentada no mesmo lugar onde eu estava.
   A Professora Vera é doce, branda e exercia uma excelência sobre a sala.     Existe uma grande diferença entre Poder e autoridade: Minha querida Vera exercia a excelência da autoridade, ela tinha uma habilidade para influenciar os alunos a fazerem as coisas de livre espontânea vontade por causa de sua influência pessoal. Os alunos a ouviam  porque se sentiam ajudados e entendidos. Quando um professor percebe a dificuldade ou limitação de um aluno e entende que precisa ajudá-lo, não fazer a sua vontade, mas a suprir as necessidade desse aluno, este professor será visto de forma diferenciada.
      Após esta lembrança, me levantei e fui até a porta de vidro que dá saída para o espaço aberto da escola. Subi as mesmas escadas que subia para ir embora para casa, no final da escada tem uma passarela com o portão de um lado e um extenso caminho do outro, peguei o caminho que me levaria de volta ao passado. Passei por aquelas árvores, senti aquele cheiro...As memórias dançavam em minha mente...Me vi chorando de raiva dos meninos que pegavam no meu pé, que corriam atrás de mim, quando eu não queria brincar de pera uva maçã salada mista. Ouvi os risos que eu dava com minhas colegas,  Andei mais um pouco e vi a biblioteca, lugar onde eu sentia paz. 
Quando andava entre os corredores da biblioteca, falava para mim mesma, um dia outros alunos irão ver meus livros, em seguida ao dar a volta na escola, eu o vi, aquele de quem eu jamais esqueceria, aquele com quem dividi por muitas vezes minhas emoções, meus sentimentos mais ocultos, meus desejos,  meus risos mais sinceros, minhas melancolias, meus diversos personagens, aquele que me fazia sonhar com o surreal, era ele mesmo, meu querido e inesquecível palco, onde me apresentei por quatro anos. Nossa! Foi terrivelmente lindo vê-lo novamente.

Fechei os olhos e percebi estar vivendo um passado que ainda não passou, pois estava bem presente dentro de mim.

O REFUGIO


Como todo irmão mais novo, tinha que dividir meu quarto às vezes. No entanto, eu como sempre ranzinza, não gostava de intrusos em meu eterno refugio, sim refugio, pois era minha mãe brigar comigo, que para lá eu fugia, até me esconder em baixo da cama que era algo muito divertido.
Meu quarto não era muito grande, cabia a beliche, cômoda e roupeiro. Tinha uma cor de parede amarela quase branca e no fundo uma parede azul água, que eu mesmo havia pintado. Ali era meu lugar sagrado, meu lugar dos sonhos onde tudo virava realidade, histórias de guerras, lutas e até brincava de bater figurinha com meus primos.

Mas a melhor parte era montar minhas cidades, sim cidades com caixinhas de leite, caixas de sapatos, latinhas tudo que me servisse ou que minha imaginação criasse como prédios. Construía enormes torres com guardas e ali eu adentrava em um mundo de sonhos, meu reino, onde tudo era possível.

Por muitas vezes minha mãe ficava louca com minha bagunça, mas sabia que o arrumaria. 
Às vezes ao me deitar em minha cama hoje, me lembro desses momentos, o coração acelera. 
Algo bem comum ao achar no meu quarto eram os carrinhos e livros, adorava ler quando pequenas e muitas figurinhas de vários desenhos da época, até parece que sou tão velho assim, somente estou com 21 anos.


Elielton Carmo Barreto
Turma de letras - Manhã



UMA VIAGEM INESQUECÍVEL - CRUZEIRO


            Finalmente chegou o grande dia, 29 de dezembro de 2012, tudo previamente planejado, sabendo-se do roteiro e imaginado o quão todos seriam felizes durante este cruzeiro. Zarpando do porto de Santos, navegando por toda ora rumo ao Rio de Janeiro.
            Amigos de longa data, James Hofstetter e Cristine Coutinho fizeram o maior agito para que outros amigos os acompanhassem nessa viagem. Para eles já  não era novidade, pois essas e outras eram constantes em suas férias. James estava um tanto estressado, ansioso sendo um investigador policial, não conseguia se desligar por completo, por isso pensou em cruzeiro entre amigos.
            Não poderia faltar sua melhor amiga inclusive de igual profissão, uma policial bem conceituada (tenente) que muito honra suas divisas. Todos já em suas cabines, preparando-se para o jantar, depois um baile black tié, onde o comandante é a atração principal.
            A tarde estão a volta da piscina para pegar um belo bronzeado, depois academia, enfim, salão de beleza para total produção. Alice Oda, doce e meiga é escritora de contos infantis, atuando também em peças teatrais. Porém sem compromisso afetivo, talvez “nessa viagem encontraria a sua cara metade”. Sempre em companhia de sua amiga Ana Madeira, compositora já com algumas gravadas por cantores famosos, também com grande expectativa de encontrar alguém que fizesse seu coração bater mais forte.
            Já era noite quando todos se encontraram para o jantar, surge linda e deslumbrante Dra. Andreia Silva, também solteira, sendo uma excelente cardiologista, pensava mais em descansar e aproveitar todos os momentos. Só faltava Roberta Fon, com seu atraso costumeiro, pois não encontrava seus brincos de brilhantes, e sem eles sentia-se completamente nua.
            Agora sim, todos em seus respectivos lugares, um belo cenário, decoração esmeralda, móveis em dourado com toalhas adamascadas e guardanapos idem em lindo arranjo sobre a mesa. Degustação impecável, entradas de damasco com patê de roquefort, vinhos e champanhes importados e animada conversa, todos à espera da orquestra de um famoso cantor para conduzir o grande baile.
            Roberta sendo artista plástica e muito detalhista, tudo o que via, se tornava um bom motivo para pensar em transformar cenas, em telas pintadas a óleo. A conversa ia longe, Cristine contava sobre suas apreensões policiais, sobre o avanço devastador das drogas aos jovens atualmente. Lamentando que nada, estava sendo feito para amenizar ou erradicar de vez.
            Com certeza da total aprovação de seu amigo James, Oda atropelando a fala, disse – Quero convidá-los para o lançamento de mais um livro infantil, logo no início do próximo ano. Todos confirmaram presença. Nesse momento, ouve-se a orquestra, e eis que surge o comandante, elegante e em seu traje de gala, destilando seu charme e certo ar de arrogância.
           
Todas queriam dançar com Renevaldo Mísso, esse era o seu nome, que como psicólogo, era um excelente comandante. Principalmente comandante de muitos corações, que ao conduzir sua parceira, dizia-lhes frases prontas e repetidas.
          Assim como Cristine que voltou a mesa empolgada e feliz, disse – Acho que levei a maior sorte, pois o comandante disse-me coisas maravilhosas, ele é gentil e sedutor. Sucessivamente todas tinham ouvido as mesmas frases, souberam quando todas juntas chegaram a mesma conclusão: ele gosta sim de mulheres, não tem uma em especial, mas de todas.
            Alice Oda estava enamorada de um belo jovem, que veio tirá-la para dançar, era professor seu nome Antony Pfeifer. Tinham muito em comum e ficaram juntos até o dia amanhecer.
            Ana e Andréia estavam à procura do seu par perfeito. Enquanto que Roberta passa a usar de todos os meios para entrar na cabine do cantor que para sua surpresa era o seu amado, Robert Charles. Tenta subornar os seguranças, oferecendo-lhes todas as joias que usava para seu desespero, não dando certo, não poderia deixar passar essa oportunidade que talvez fosse a única e a última de toda sua vida.
            Como que se ouvisse uma voz lhe dizendo: chorar de nada vai adiantar, tem que agir e rápido. Quando a camareira entra na cabine para arrumar, e esquece a porta aberta, ah! Esse era o momento certo.
            E assim aconteceu, Roberta entra e se esconde no closet e fica a espera, mesmo que demorasse toda a viagem. Seu coração batia tão forte e descompassado que ma ouve a porta se abrir e fica a imaginar como será seu encontro, cheio de surpresas e emoções.
            Um susto inevitável, quando Roberta sai do armário e se depara com ele, ali a sua frente, e ela tenta explicar, falar do seu sentimento e todo amor que por ele senti. Estática, olhar fixo em seu olhar, e com detalhes fica como a esculpir o seu rosto, mas ela se surpreende ao notar que, ele não é quem ela gostaria que fosse, pois defini que não era ele.
Meu Deus! Por que você não é, aquele que eu sempre desejei e sonhei! Pausadamente ele diz: - É o que estou tentando lhe dizer, eu não sou, sou somente o “cover”, muito parecido, mas não sou.
            Roberta visivelmente abalada, cega pela indagação e decepcionada corre até a janela, num impulso cai do 10º andar.  Logo a notícia se espalha e seus amigos policiais, muito tristes, mas com uma missão, de investigar, se fora um acidente ou suicídio.


            Maria Sônia Fon
Turma de Letras - Manhã
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MEU PRIMEIRO DIA DE AULA NA 1ª SÉRIE




Eu ainda me lembro da primeira vez que entrei naquela sala de aula, era Fevereiro, ano de 1997, estava muito ansiosa para conhecer minha professora e meus coleguinhas.
Naquele dia minha mãe me acompanhou até escola, e me levou até a porta da sala.
Todo aquele momento era novidade para mim, eu soava frio e parecia que ia me ocorrer uma dor de barriga.
Chegamos! Minha mãe falou a maioria dos alunos já haviam entrado na sala, e eu já estava atrasada mais ou menos quinze minutos, minha bateu três vezes na porta, e tão logo ela se abriu.
Eu me deparei com uma mulher de aparência doce e muito simpática, seu nome era Rosangela, minha mãe foi logo se desculpando o atraso dizendo que não iria mais acontecer.
Minha mãe foi se distanciando dizendo que mais tarde viria me buscar, a professora me conduziu para sala de aula, todos os alunos ficaram me olhando com cara de curiosos, mas a recepção foi boa. Neste momento eu sentia todas as sensações possíveis, até a vontade de sair correndo por aquela porta e ir embora me ocorreu naquele momento, mas eu havia esperado por esse momento, eu queria estar ali.
A professora me apresentou aos meus colegas, então eu fui me sentar na minha carteira, muito ansiosa para aprender,  eu ainda não sabia ler, mas já havia aprendido muito com minha irmã antes de chegar à escola, fui logo copiando a lição.
Da lousa e fazendo o cabeçalho em meu caderno.
Não demorou muito e já comecei a fazer amizade com meus novos colegas, e toda aquela vergonha foi indo embora.
As horas foram passando e a aula chegou ao fim, aquele dia cheio de emoções estava indo embora, quando sai no portão da escola, lá estava minha mãe me esperando, eu fui logo contato minhas novas experiências e tudo o que havia aprendido na escola, e minha mãe sorrindo
- Amanhã você vai aprender muito mais na escola, mas você nunca mais vai se esquecer do seu primeiro dia de aula!


Angélica Paula Rosa da Silva


O APITO DO TREM

    

    O relógio marcava 11 horas e eu Rita, aluna do ginásio no Colégio Estadual Prof. Paula Santos, aguardava ansiosa a chegada de uma pessoa, minha prima Izilda , hoje conhecida como Prof. Izilda.
    Nossas vidas como estudante no ginásio, era assim que se falava quando éramos jovens vale hoje para    o fundamental, era muito  interessante e as vezes até cansativa, não para mim que morava na cidade    onde     estudávamos , em  Salto, mas para Izilda. Ela vinha de trem que passava próximo á sua casa, na Fazenda      Monte Serrate, saia por volta de 9.30 da manhã sozinha com seus 10 anos  de idade, eu a esperava pois     
minha casa ficava de frente à estação  do trem e nós  íamos juntas para a escola, posso dizer que andávamos a pé por uns 7 ou  8 km.
    Nesse tempo em que caminhávamos falávamos sobre tudo, escola, nossos avós, primos e primas, amigos
enfim. Não  estávamos na mesma sala, mas me lembro de nossos recreios , desfiles do 7 de setembro, nossos uniformes, cadernos e livros tudo comprado com sacrifícios por nossas  famílias.
   Minha mãe ( Tia Biga ) e a mãe da Izilda ( Tia Dalina ) eram duas  guerreiras , as vezes ganhavam roupas
viravam no avesso e as transformavam em saias e camisas, nossos uniformes, usávamos conga ou sapatos
vulcabrás para durar bastante.
    Eu era uma aluna de notas sempre na média, mas a Izilda brilhava em todas as matérias fechava    suas    
notas  antes do término do ano letivo.
    Faço hoje um resgate de nossas lembranças pois passamos 3 ou 4 anos estudando juntas,  nossos professores eram os mesmos, Prof. Benito (matemática), D. Liliam (português), Edson (ciências ), Rigolin (geografia) e outros que não me lembro mais os nomes, e também as amigas; Glaucia, Eliana, Laura, Márcia, ahhhhhhhh...esqueci o resto.
    Assim caminhando com o tempo, fomos para o colegial cada uma seguiu seu caminho, seus  sonhos, já éramos adultas (18 anos ), mas não deixamos de nos ver, em férias de  trabalho e escola  estávamos sempre juntas no sítio onde moravam meus avos e meus tios pais da Izilda.
    A vida  foi melhorando para nós duas, eu em  Salto e ela em  Campinas, começamos a Faculdade, eu na Faculdade de Filosofia de Itu e Izilda na PUC, já namorávamos firme e optamos  por casar e parar  com os estudos, não era financeiramente viável, tivemos nossos filhos, hoje já estão adultos.
    Estou na Faculdade hoje para terminar o que comecei ha 33 anos atrás, minha prima já se formou e  da
aula na Faculdade que estudo, ela é minha inspiração , compartilhamos de uma boa amizade.
    Descobri recentemente através de uma sobrinha que mora na Inglaterra, que somos descendentes, bisnetas, do Barão do Café, da antiga Fazenda Monte Serrate, hoje não existe mais, não quer dizer nada, mas para nós é bastante  interessante, pois o mesmo trem que levava o café colhido para o Porto de Santos, foi  o mesmo que trouxe por muito tempo a Izilda  para estudar comigo em  Salto.
     Bem, não poderia recordar esses momentos de minha vida sem lembrar de minha prima pois tenho certeza que ainda caminharemos muito tempo juntas, não mais com o apito do trem da maria fumaça que passava na Fazenda, mas como educadoras que acreditam ser o ensino o único caminho que leva a vencer  desafios e obstáculos.


  Argia Rita Aguirre 

O BANHEIRO



            Era fevereiro de 1993, ano em que Joana completava oito anos de idade. Mirrada devido ao auxílio que dava aos pais em diversas atividades, no roçar, buscar água para família e ajudar nos afazeres domésticos, numa casa de pau a pique, o que acabou por comprometer seu desenvolvimento. Tinha cinco irmãos, sendo um mais velho e o restante mais novos, que ela ajudava a mãe a criar.
Esse lar tinha pouquíssimos recursos e com isso desenvolveu um preparo físico e psicológico fortíssimo. Muitas vezes vendia o almoço para ter a janta.
Outro fato à ser relembrado é que aquela casa não possuía banheiro.
Essa pequena menina, morava no norte de Minas Gerais, em um tipo de sertão, com períodos de meses que não possuía uma gotícula de chuva, e para se chegar à estrada pavimentada mais próxima, tinha que caminhar em torno de duas horas.
Nesse ano aconteceu um fato que gravara a nossa personagem, ela começou a frequentar a escola junto com irmã um ano mais nova, por ser uma comunidade rural, com poucos recursos e longe da civilização,  ficara aguardando a irmã completar a idade para frequentara escola.

No primeiro dia de aula, ambas estavam como cachorro sem dono, nervosas, não se sentiam preparadas para esse novo desafio, lidar com a professora, pessoa que tinha para elas uma gama de conhecimento e vivência, e elas pobres e pequenas, as angústiava.
No decorrer do dia cada fato novo que acontecia era algo maravilhoso, cada palavra dita pela mestra era soberbo. 
Como era uma comunidade rural simples, as carteiras utilizadas, eram mesas adaptadas para se sentarem em dupla ou até em trio, e mesmo a sala de aula tendo uma iluminação precária, para ela, era algo como, um templo do conhecimento, onde poderia aprender coisas que iriam tirar todos de sua família daquela situação triste.
Um fato que a deixou maravilhada, foi que em certo momento sentiu vontade de fazer necessidades fisiológicas, informou a professora, que a levou até um ambiente que ela desconhecia, o banheiro. Ao entrar naquele ambiente, seus olhinhos brilharam como uma estrela em noite escura, ele era um tanto simples, mas enfim, ela conhecera esse ambiente.
Quando o banheiro era usado, por não possui descarga, pois tudo era feito em uma vala, o cheiro pairava no ar por um tempo que parecia uma eternidade, mas o verde do ladrilho a fascinava, realçando pelas portas de madeira pintadas de verde escuro, e lá ela adorava ficar, admirando-o.
A professora disse no primeiro dia de aula, para que quando fosse ao banheiro, tomasse cuidado de não deixar cair na vala, suas coisas.
O banheiro foi o que mais ficou na lembrança da menina, e era onde ela mais gostava de ficar nos quatro anos que nessa escola permaneceu, até terminar a 4ª série. 

Michele Nogueira
Turma de Letras - Manhã